sábado, 13 de novembro de 2010

Sementes de afeto

 















Se temos de esperar,
que seja para colher a semente boa
que lançamos hoje no solo da vida.
Se for para semear,
então que seja para produzir
milhões de sorrisos,
de solidariedade e amizade.
(Cora Coralina)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Espero um filho...

Espero um filho
Fruto de um sonho
E de um ato de amor,
Ele será luz para o mundo.
Todos contemplarão em seus olhos
E em seus gestos uma paixão Infinita pela vida.
Trará consigo um imenso poder
De sonhar e acreditar na utopia.
Distribuirá a todos, sementes de paz
E com as mãos erguerá a terra
Em direção do sol e da chuva
Para que deles bebam o calor e o frescor da imensidão.
Será belo, meu filho. E a beleza trará no nome.
E seu nome se repetirá nas bocas de cada homem e cada mulher
E nas risadas das crianças.
Será sábia e ensinará a todos o valor da inocência e da simplicidade.
Espero um filho.
Será ele a eternização de mim e de seu pai e de seus avós
E carregará no coração a dignidade herdada da família
E o exemplo de seus anteriores.
Que ele não seja o que fui.
Que ele seja sempre mais do que sou.
Que ele viva para seus sonhos
E com sua esperança dê vida a mil outros.
(autor desconhecido)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vanessa: origem: latim, espécie de borboleta.

Pensar que a vida é linda. 
Apostar que a vida é linda. 
Jurar que a vida é mesmo linda. 
E viver acreditando que nasceu borboleta.
Que tem nome de borboleta. 
Que virou borboleta. 
Um par de asas pode tanta coisa. 
Um céu de delicadezas mora bem aqui dentro. 
Onde nasce o dia. 
Todo dia cheio de sol num mar azul de céu. 
Duma janela com girassol. 
Infinito.
Voo. 

(Texto da Vanessa da Caixa Mágica)

segunda-feira, 12 de julho de 2010


Receita pra Lavar Palavra Suja 
(Viviane Mosé)
Mergulhar a palavra suja em água sanitária. Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia. Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida. Existem outras, e a palavra amor é uma delas, que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente. São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas. Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada. Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão. Agora nunca vi palavra tão suja como perda. Perda e morte na medida em que são alvejadas soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua. O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar. O perigo neste caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha. Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade. Já a palavra força cai bem em qualquer mistura. Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido. A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons. Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa. Conviva com a palavra durante alguns dias. Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos. A noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo. Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade. Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa. Uma palavra limpa é uma palavra possível.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Simplicidade



Quero a delicia de poder sentir as coisas mais simples. Manuel Bandeira.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Amor...


Como fica forte uma pessoa, quando esta segura de ser amada! (Freud)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago (1922-2010)


Dentro de nós há uma coisa que não tem nome,

essa coisa é o que somos (Saramago).


terça-feira, 15 de junho de 2010

Tempo


um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando


(Viviane Mosé)

quinta-feira, 3 de junho de 2010


Que todo mundo tenha um amor quentinho.

Descanso pro complicado do mundo.

Surpresa pra rotina dos dias.

A quem esperar.

De quem sentir saudades.

Um nome entre todos.

O verso mais bonito.

A música que não se esquece.

O par pra toda dança.

(Ana Jácomo)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Encontro


By Vanessa Leonardi

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Serenidade


Foto: Vanessa Ferreira

O sol apareceu e iluminou um outono ameno. A claridade organizou meus pensamentos, me fez lembrar que é tempo de semeadura. Do exercício da paciência, da tolerância e da paz interior. Ah, essa paz! Paz para simplesmente viver. Deixar-se conduzir livremente pelas horas, sentido a vida passando límpida, sem medo. Vivendo o hoje, o agora, o instante. Paro em meio a agitação urbana e olho por alguns minutos o mar. As ondas que vem e vão em uma sincronicidade perfeita da natureza. E me volto para dentro. Escuto o meu coração aflito e digo: acalme-se! Acolho o meu coração, dou colo, dou tempo, amor. Ele passa a pulsar no seu ritmo normal. Não se preocupe, a vida é justa e bela ainda com todas as suas incertezas. Retorno para o meu cotidiano mais calma e escrevo em um papel para não esquecer: a serenidade é o segredo das vidas longas e felizes.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Verbetes...




Felicidade: s.f. resultado de quando se aperta o botão do play.

Delicadeza: s.f. a arte de domar espíritos selvagens pela diplomacia.

Saudade: s.f. antigo aparelho de medir amor inventado pelos primeiros argonautas. Hoje existem métodos mais modernos e eficazes, como arrumar a casa e exames geladerísticos.


(Projeto Verbete)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Renovar





Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.(Clarice Lispector)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Abre-alas...


Com o coração (Ana Jácomo)

Hoje eu não quero conversas vestidas de uniforme. Diálogos impecavelmente arrumados que não deixam o coração à mostra. As palavras podem sair de casa sem maquiagem. Podem surgir com os cabelos desalinhados, livres de roupas que as apertem, como se tivessem acabado de acordar. Dispensa-se tons acadêmicos, defesas de tese, regras para impressionar o interlocutor. O único requinte deve ser o sentimento. É desnecessário tentar entender qualquer coisa. Tentar solucionar qualquer problema. Buscar salvamento para o quer que seja.


Hoje eu não quero falar sobre o quanto o mundo está doente. Sobre como está difícil a gente viver. Sobre as milhares de coisas que causam câncer. Sobre as previsões de catástrofes que vão dizimar a humanidade. Sobre o quanto o ser humano pode ser também perverso, corrupto, tirano e outras feiúras. Sobre os detalhes das ações violentas noticiadas nos jornais. Não quero o blablablá encharcado de negatividade que grande parte das vezes não faz outra coisa além de nos encher de mais medo. Não quero falar sobre a hipocrisia que prevalece, sob vários disfarces, em tantos lugares. Hoje, não. Hoje, não dá. Não me interessam o disse-que-disse, os julgamentos, a investigação psicológica da vida alheia, os achismos sobre as motivações que fazem as pessoas agirem assim ou assado, o dedo na ferida.


Hoje eu não quero aquelas conversas contraídas pelo receio de não se ter assunto. A aflição de não se saber o que fazer se ele, de repente, acabar. O esforço de se falar qualquer coisa para que a nossa quietude não seja interpretada como indiferença. Hoje eu não quero aquelas conversas que muitas vezes acontecem somente para preenchermos o tempo. Para tentarmos calar a boca do silêncio. Para fugirmos da ameaça de entrar em contato com um monte de coisas que o nosso coração tem pra dizer. Além do necessário, hoje não quero falar só por falar nem ouvir só por ouvir. Que a fala e a escuta possam ser um encontro. Um passeio que se faz junto. Um tempo em que uma vida se mostra para a outra, com total relaxamento, sem se preocupar se aquilo que é mostrado agrada ou não. Se aumenta ou diminui os índices de audiência.


Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costumam fazer você sintonizar a frequência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca. Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer.


Hoje, me fala de você. Dos momentos em que a vida lhe doeu tanto que você achou que não iria aguentar. Fala das músicas que compõem a sua trilha sonora. Dos poemas que você poderia ter escrito, de tanto que traduzem a sua alma. Senta perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes, faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera. A gente já brincou tanto de faz-de-conta quando era criança, onde foi que a gente esqueceu como se chega a esse lugar de inocência? Fala da lua que você admirou outra noite dessas, no céu. Da borboleta que lhe chamou à atenção por tanta beleza, abraçada a alguma flor, como se existisse apenas aquele abraço. Diz se quando você acorda ainda ouve passarinhos, mesmo que não possa identificar de onde vem o canto. Diz se a sua mãe cantava para fazer você dormir.


Senta perto e me conta o que você sentiu quando viu o mar pela primeira vez e o que sente quando olha pra ele, tantas vezes depois. Se tinha jardim na casa da sua infância, me diz que flores riam por lá. Conta há quanto tempo não vê uma joaninha. Se tinha algum apelido na escola. Se consegue se imaginar bem velhinho. Fala da sua família, a de origem ou a que formou. Das pessoas que não têm o seu sobrenome, mas são familiares pra sua alma. Fala de quem passou pela sua vida e nem sabe o quanto foi importante. Daqueles que sabem e você nem consegue dizer o tamanho que têm de verdade. Fala daquele animal de estimação que deitava junto aos seus pés, solidário, quando você estava triste. Diz o que vai ser bacana encontrar quando, bem lá na frente, olhar para o caminho que fez no mundo, em retrospectiva.


Podemos falar abobrinhas, desde que sejam temperadas com riso, esse tempero que faz tanto bem. A gente pode rir dos tombos que você levou na rua e daqueles que levou na vida, dos quais a gente somente consegue rir muito depois, quando consegue. A gente pode rir das suas maluquices românticas. Das maiores encrencas que já arrumou. Das ciladas que armaram para você e, antes de entender que eram ciladas, chegou até a agradecer por elas. De quando descobriu como são feitos os bebês. A gente pode rir dos cárceres onde se prendeu e levou um tempo imenso pra descobrir que as chaves estavam com você o tempo todo. Das vezes em que se sentiu completamente nu diante de um Maracanã, tamanha vergonha, como se todos os olhos do mundo estivessem voltados na sua direção. Das mentiras que contou e acreditaram com facilidade. Das verdades que disse e ninguém levou a sério.


Não precisa ter pauta, seguir roteiro, deixa a conversa acontecer de improviso, uma lembrança puxando a outra pela mão, mas conta de você e deixa eu lhe contar de mim. Dessas coisas. De outras parecidas. Ouve também com os olhos. Escuta o que eu digo quando nem digo nada: a boca é o que menos fala no corpo. Não antecipe as minhas palavras. Não se impaciente com o meu tempo de dizer. Não me pergunte coisas que vão fazer a minha razão se arrumar toda para responder. Uma conversa sem vaidade, ninguém quer saber qual história é a mais feliz ou a mais desditosa.

Hoje eu quero conversar com um amigo pra falar também sobre as coisas bacanas da vida. As miudezas dela. A grandeza dela. A roda-gigante que ela é, mesmo quando a gente vive como se estivesse convencido de que ela é trem-fantasma o tempo inteiro. Um amigo pra falar de coisas sensíveis. Do quanto o ser humano pode ser também bondoso, honesto, afetuoso, divertido e outras belezas. Dos lugares onde nossos olhos já pousaram e daqueles onde pousam agora. Um amigo para conversar horas adentro, com leveza, de coisas muito simples, como a gente já fez mais amiúde e parece ter desaprendido como faz. Um amigo para se conversar com o coração.


E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.